quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Duelo



O DUELO

Ela andava na rua. Ordinária, casual. Ao lado, o homem e a criança.
O homem bonito, franco, com braços de proteção. A criança sonora, criando coreografias pueris.
E ela se fez invisível. Silenciosa alcançou o último andar. O homem e a criança não estavam prevenidos pra essa altura toda. Continuaram alguns passos ainda confiantes.
Os gritos dos passantes é que os alertaram.
Ela alcançou o último andar atraída pela corda bamba. Do último andar, não era possível sentir o abraço do homem nem os sons alegres da criança. No último andar os vínculos não a alcançavam.
Ela esperou até se certificar de que o homem e a criança estavam seguros. Ouviu os sons da altura. Lá não a alcançavam os sons seguros do passo a passo na calçada. Ela estava segura de que nada mais seria capaz de a alcançar.
Agora eram só ela e seu medo.
Ela avistou a corda bamba. A corda balançava, ameaçava tentando alertar sobre o risco. Ela estava com o medo dela, acompanhando, chamando pra corda bamba. O medo dela e a corda bamba duelaram por alguns instantes. O medo dela não era o medo da corda bamba. Era o medo dos sons seguros dos passos na calçada.
A corda bamba tentava apavorar não a moça, mas o insistente medo dela.
O pé da moça deu o primeiro passo e daí ela sentiu vibrar na corda o pavor.
Ela procurou pelo homem e a criança na calçada, mas não os avistou. A corda vibrou ainda mais balançando o pavor que prevenia.
Ela enfim, sentiu medo da corda.
O homem enfim, alcançou o último andar.
E os sons alegres da criança, enfim foram mais altos que os sons da altura, da rua e do medo dela...

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