sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Hoje tem espetáculo, tem sim senhor!

Montaram um circo em meu coração. Como se ele fosse o centro de uma cidade pequena e aconchegante. A praça, o palco de encontros, amores, brincadeiras infantis. É lá que a lona foi montada. Meu coração é ao mesmo tempo o picadeiro, o trapezista, o palhaço, o equilibrista e o mágico.

A cidadezinha está em festa, o espetáculo vai começar.

E de uma só vez, no alto e no chão, apresentam-se dois artistas.


Enquanto o equilibrista luta para manter-se firme na corda bamba que teima em balançar junto com as batidas de seu coração, lá no picadeiro, o mágico traz promessas de mistério e boas histórias em seu sotaque estrangeiro. Transforma o azul da lona em água, e as lâmpadas coloridas em cardumes coreográficos. Nasce então um céu oceânico. E é nesse céu que chega o palhaço. Matreiro, malicioso em seu barco de papel que espirra alegria na platéia enquanto passa.

É tão lindo e colorido o espetáculo que o equilibrista, láááá de sua corda e seu céu sem estrelas,

desequilibra

O equilibrista não sabe nadar. E sem escolha, diante do oceano cada vez mais próximo, ele fecha os olhos, abre os braços e entrega-se. Como se fosse um paraquedista em queda livre com a certeza de que tudo vai dar certo, ele somente se entrega. O mágico, o palhaço e a platéia tem os olhos na queda livre do equilibrista. Sentem medo e uma pontinha de inveja. A platéia levanta-se de uma só vez. O equilibrista continua de olhos fechados e o oceano em que ele não sabe nadar continua aproximando-se.


O oceano aproxima-se rapidamente, mas o equilibrista, subvertendo as leis da física, cai lentamente.

Cai lentamente, o equilibrista

Aproxima-se rapidamente, o oceano


Lentamente

Rapidamente

Lentamente

Rapidamente

Quando oceano e equilibrista estão numa distância íntima, quando enfim podem tocar-se, a platéia em coro diz: úúúúúú ahhhhhhh.


Nesse momento há no céu outro artista: o trapezista observava seu colega, em silêncio. O perigo da queda do equilibrista comove o trapezista...


Quando o equilibrista abre os olhos, ele está nos braços do orgulhoso trapezista que o pousa com cuidado de volta no céu sem azul.


A plateia aplaude durante um longo tempo, comentam entre si a coragem dos artistas, o espetáculo primoroso. Pensam que estavam todos preparados. Não reparam, em meio a excitação, que mágico, palhaço, trapezista e equibrista estão parados, incrédulos diante do próprio espetáculo.

Olham-se as duplas de artistas uma no céu, outra no oceano, e sabem, em silêncio, que nunca mais serão os mesmos.

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