O DUELO
Ela andava na rua. Ordinária, casual. Ao lado, o homem e a
criança.
O homem bonito, franco, com braços de proteção. A criança
sonora, criando coreografias pueris.
E ela se fez invisível. Silenciosa alcançou o último andar.
O homem e a criança não estavam prevenidos pra essa altura toda. Continuaram
alguns passos ainda confiantes.
Os gritos dos passantes é que os alertaram.
Ela alcançou o último andar atraída pela corda bamba. Do
último andar, não era possível sentir o abraço do homem nem os sons alegres da
criança. No último andar os vínculos não a alcançavam.
Ela esperou até se certificar de que o homem e a criança
estavam seguros. Ouviu os sons da altura. Lá não a alcançavam os sons seguros
do passo a passo na calçada. Ela estava segura de que nada mais seria capaz de
a alcançar.
Agora eram só ela e seu medo.
Ela avistou a corda bamba. A corda balançava, ameaçava
tentando alertar sobre o risco. Ela estava com o medo dela, acompanhando,
chamando pra corda bamba. O medo dela e a corda bamba duelaram por alguns
instantes. O medo dela não era o medo da corda bamba. Era o medo dos sons
seguros dos passos na calçada.
A corda bamba tentava apavorar não a moça, mas o insistente
medo dela.
O pé da moça deu o primeiro passo e daí ela sentiu vibrar na
corda o pavor.
Ela procurou pelo homem e a criança na calçada, mas não os
avistou. A corda vibrou ainda mais balançando o pavor que prevenia.
Ela enfim, sentiu medo da corda.
O homem enfim, alcançou o último andar.
E os sons alegres da criança, enfim foram mais altos que os
sons da altura, da rua e do medo dela...