A moça ouvia o rádio
A moça ouvia impaciente as propagandas no rádio, sempre,
até o dia em que soube que eram elas, as propagandas, que mantinham o rádio
Então a moça passou a ter um pouco mais de paciência,
só um pouco
A moça então, com um pouco mais de paciência, ouvia o bloco de propagandas,
sentada na cama, mãos cruzadas entre os joelhos,
olhos arregalados na tentativa de ajudar ao ouvido ficar bem ouvinte
A moça ainda de cabelos despenteados, dentes não escovados e camisola de algodão,
ficava assim,
na cama,
as mãos entre os joelhos,
sentada
O coração da moça sabia de cor as propagandas de antes do programa
O coração da moça, assim quando as propagandas iam passando
_o salão de beleza,
o escritório de contabilidade_
iniciava uma arritmia ritmada aumentando, aumentando,
e era tão forte que o corpo da moça até balançava
O coração aumentava até quase explodir,
até que o corpo não mais suportasse controlar aquele coração em fuga,
até que o homem da rádio falava,
falava pra moça_o coração dela que afirmava:
bom dia queridos ouvintes!
E então?
Então a moça despertava
(Este escrito, reescrito, é para meu amor, que reamo todos os dias, Rodrigo Sá Pedro)
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