sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A moça e o Rádio

A moça ouvia o rádio


A moça ouvia impaciente as propagandas no rádio, sempre,

até o dia em que soube que eram elas, as propagandas, que mantinham o rádio


Então a moça passou a ter um pouco mais de paciência,

só um pouco


A moça então, com um pouco mais de paciência, ouvia o bloco de propagandas,

sentada na cama, mãos cruzadas entre os joelhos,

olhos arregalados na tentativa de ajudar ao ouvido ficar bem ouvinte


A moça ainda de cabelos despenteados, dentes não escovados e camisola de algodão,

ficava assim,

na cama,

as mãos entre os joelhos,

sentada


O coração da moça sabia de cor as propagandas de antes do programa


O coração da moça, assim quando as propagandas iam passando

_o salão de beleza,

o escritório de contabilidade_

iniciava uma arritmia ritmada aumentando, aumentando,

e era tão forte que o corpo da moça até balançava


O coração aumentava até quase explodir,

até que o corpo não mais suportasse controlar aquele coração em fuga,

até que o homem da rádio falava,

falava pra moça_o coração dela que afirmava:


bom dia queridos ouvintes!


E então?


Então a moça despertava



(Este escrito, reescrito, é para meu amor, que reamo todos os dias, Rodrigo Sá Pedro)

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